os caravanistas

Desculpem, este é longo.


# fotografia de José Silva

Tem-se falado muito do cada vez maior número de caravanistas a ocupar Peniche. Conforme se pode ver pelas opiniões deixadas no Facebook, a discussão não sai muito a favor dos nossos visitantes.

Zé Pedrosa:
A semana passada, no outro Porto d'Areia mais a norte assisti a um destes selvagens (porque nem todos são caravanistas a preceito) a descarregar para o chão o depósito das águas sujas e mal cheirosas.

Nuno Gloria: 
só mesmo em peniche..em outros lados tem de acampar em sitios próprios para caravanas,aqui em peniche é na papôa é nos bombeiros é na alfandega,no porto dáreia..já para não falar da água que eles vão abastecer na lavandaria do filtro amarelo..eu pago a minha água,e eles que são ricos,porque é que não a pagam.??????

Lidia Maria:
é verdade sim senhor.assim como despejarem o lixo e as sanitas no fosso da muralha,junto á ponte velha uma vez que estão a fazer a limpeza do mesmo,assim como á pessoas que teem boas vivendas e alugam para estar a viver nas caravanas,que a higiene não será a mesma ,acho eu,isto é mesmo uma vergonha,será que não há ninguem competente que veja isto?

Carlos Mota Grão:
vêem para cá ,porque todos nós toleramos este turismo de deslize, é muita tolerância das autoridades que por sua vez trata-nos com intolerância o reste do ano todo.

Joao Paulo Ferreira:
vergonhoso, mil vezes vergonhoso, e ainda mais vergonhoso, são os responsáveis por esta cidade nada fazerem, capital da onda; onde? para mim Peniche é isso sim a capital do caravanismo, sem lei e sem o mínimo respeito pelos habitantes da cidade de Peniche que pagam os seus impostos para depois estas pessoas sem o mínimo de civismo, virem para cá e destruir as nossas paisagens naturais, pois para virem para cá nestes moldes para mim e para muitos habitantes de Peniche são personas non gratas.

Mas quem são na realidade estes animais selvagens que se intrometem em terreno alheio? Será que têm sentimentos como nós? Será que também choram pelo seu Benfica? Que vêm a ser estes bichos mal-amados?

Vitor Pampilhosa preenche calmamente o seu Sudoku. Aparentando estar já na casa dos 60, usa óculos fundo de garrafa e barba por aparar. A sua caravana está entre uma meia-dúzia delas, encostada a uma arriba atrás do molhe do Porto da Areia, se bem que os outros anos costumava ficar na zona do fosso. Vitor desde Dezembro só esteve 9 dias em casa. Em Peniche, estará até ao fim de Agosto. Depois, vai continuar a sua viagem.

Jesus Rodrigues lancha com a sua família entre um carro e duas carrinhas, de uma sai um toldo que lhes faz sombra. Uma senhora levanta-se e oferece-me o banco de plástico, para eu me sentar um bocadinho. Trabalham em Mérida, e Jesus tem antepassados penichenses. Ficam aqui uma semana, normalmente na zona da Papoa. Falam-me da brisa marítima que passa, e eu falo-lhes de dejetos. Mais concretamente aonde os depositam.
Jesus fala-me de uma sarjeta, Vitor conta-me que deposita num dos dois parques de campismo da cidade, cujo serviço de recolha é pago. Devia haver uma rede disso espalhada pela cidade? Sim, continua Vitor, pois a instalação é barata e já existe noutras terras.

E água potável? Tanto Jesus que está lá ao seu lado, como Vitor que está na outra ponta da cidade, usam o tanque de Peniche de Cima. Há uns anos, conta-me Vitor, alguém meteu um adaptador para ser mais fácil ligar a torneira ao tanque das carrinhas, este ano já não estava lá.

E quanto à população nativa, tem havido incidentes? Vitor diz-me que aqui há dias uns rapazes começaram a atirar pedras para cima de uma caravana. Os caravanistas chamaram a polícia e esta prendeu-os.

Chimeno está escrito a corretor na lapela da camisa de um agente da GNR. Pertence à Unidade de Controlo Costeira e está a descansar dentro do seu Nissan Patrol. Não tem havido ordens no que toca ao caravanismo, apesar de o agente saber que não é legal e onde muitas vezes os dejetos vão parar. Mas ainda não lhes chegou nenhuma queixa, logo não há razões para atuar.

E se fosse construído em Peniche um parque de propósito para sustentar o caravanismo? Não há dinheiro, responde-me um senhor da mesa de Jesus Rodrigues. Não há dinheiro para quê, construir ou frequentar? Para as duas coisas, sou elucidado.

Primeiro do que deixar a minha opinião no assunto, gostaria de vos sugerir um link para a opinião dos caravanistas.

Em Peniche, algo atualmente está muito errado: o despejo dos dejetos em pontos específicos de recolha, uma obrigação dos caravanistas, é taxado, e o abastecimento de água, uma necessidade, é gratuito.
Para evitar situações de despejo de dejetos em sítios impróprios, deveria ser criada uma rede de recolha destes dejetos sem qualquer custo para os caravanistas. O interesse é nosso, penichenses. Não queremos que continuem a sujar a nossa cidade. Acho até que a polícia devia andar à caça dos caravanistas que não deixem os seus resíduos em local apropriado, e atestar-lhes pesadas multas.
E passava-se a taxar a água, que ficaria disponível num conjunto específico de pontos. Quem fosse apanhado a abastecer num local não autorizado (entenda-se torneiras públicas) também seria multado. Até porque não estou a ver outra forma de o município receber diretamente dinheiro do caravanismo clandestino.

A questão é: o que perdemos nós penichenses se perdermos os caravanistas?
Eu concordo com a opinião pública: não muito. Mas também acho que não perdemos assim tanto se os deixarmos estar.

Chateia-o, caro leitor, ver caravanas espalhadas por aí?
A mim também, algumas delas. Quando se aproximam muito do Forte da Luz o sangue sobe-me um bocado à cabeça. Aquilo é património histórico e natural da nossa terra. Não devemos deixar que o estraguem assim (nem que seja só visualmente). Umas placas a proibir o estacionamento de caravanas (com vigilância a condizer) não ficariam mal. Aí e noutros locais. Baluarte da Gamboa, estacionamento do Cabo Carvoeiro...
Agora no Porto da Areia? Ou ao pé do fosso? Se tivessemos a certeza de que não iam poluir o ambiente, acho que só temos de ser hospitaleiros. Quem nunca se meteu numa caravana e partiu por aí à aventura que atire a primeira pedra.
Pronto, é verdade, eu nunca me meti numa caravana e parti por aí à aventura.
Mas ainda vou a tempo.

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