scouting #4 moinhos

Hoje vamos visitar os moinhos da península.
Começamos pelo que será um dos mais conhecidos e também o mais recente, datando de meados do século passado:


Andando um pouco para Sul, damos com as ruínas de um outro:




Este moinho pertencia ao extremo de uma área com vários moinhos seguidos, que foram registados nesta planta do início do século XIX:


Em 1832, concluiram-se as obras de uma fortificação, chamada Linha dos Moinhos, que contornava os diferentes edifícios:


Nesta fotografia do início do século passado, podemos ver os quatro moinhos da direita:



Atualmente só restam 3 moinhos:


Sendo que recentemente o segundo deles viu as construções à sua volta serem demolidas mas permaneceu de pé. Uma atitude louvável de vigia pelo património que suponho se poder atribuir à câmara.


O terceiro moinho foi convertido em residência. Note-se que tal como no segundo e em muitos dos moinhos que vamos ver, durante a conversão em habitação o telhado cónico foi transformado num com duas águas.


O próximo moinho localiza-se em frente ao hospital, num sítio antigamente conhecido por Alto da Macedónia, e tinha este aspeto em meados do século passado:


Atualmente, a autarquia está interessada na aquisição do terreno onde se situa para posterior recuperação e integração num jardim há já muito projetado que se estenderia do hospital até à fábrica da Ramirez. Neste caso em particular, a compra ainda só não ocorreu porque o proprietário não aceita o valor oferecido pela autarquia, no entanto qualquer obra nesta zona está embargada.



Fui procurar este moinho às plantas mais antigas que tenho, e em algumas delas, aparecem dois moinhos nesta zona:



Mas numa mais rigorosa, de 1798, os tais dois moinhos aparecem na zona correspondente ao atual hospital, pelo que podemos concluir que houve dois moinhos já desaparecidos nesta zona, e que este em concreto é posterior à criação deste mapa.


Existiu mais a Sul um outro chamado Moinho da Garavanha, que foi demolido para ser construída a antiga central elétrica.

Um moinho que passa bastante despercebido é que deu origem à capela-mor da igreja de Santana, conforme defende Fernando Engenheiro:

A porta que dá acesso à sacristia seria a porta principal do moinho, bem como a cinta saliente que tem na parte superior, no exterior, onde se supõe que trabalhasse o carreto. Serve este invento (peça de madeira formada por duas rodas) para virar o moinho conforme o vento.


A partir da sua adaptação para presbitério, foi fácil que para complementar o edifício se tivesse acrescentado para a frente o corpo principal, que possivelmente é o atual.
Esgotei todas as fontes de documentação onde pudesse encontrar alguns elementos relacionados com esta casa de oração. Dos elementos mais antigos, foi-me possível encontrar registado no livro de enterramentos da igreja de São Sebastião (Nº Sra. da Conceição) de 1595, fls 22V  - Fernão Dinis, ermitão, que foi de Santa Ana, faleceu na sua casa na era de 13/7/1622.

O próximo moinho a visitar chama-se Moinho da Fialha e data de meados do século XIX, aparecendo nesta foto de 1983 de António Jesus Lourenço:


Há quatro anos foi mandado recuperar pela câmara (ver comentários) e entregue à CERCI.


Um slideshow sobre a recuperação do moinho:


Descendo, encontramos os Moinhos de São Marcos:




Segundo algumas plantas do século XVIII, os primeiros a ser construídos (não sei em que altura) foram os dois anteriores e um no bairro do Visconde, a que se seguiram outros dois:




Nesta última planta, de 1798, aparecem já cinco moinhos, situação que ainda se mantinha em 1938:


A realidade hoje em dia é algo diferente, visto que o moinho do meio foi mandado demolir pelo meu pai. Pertencia ao meu bisavô, Manuel Farto, e depois da sua morte, os herdeiros quiseram vender o terreno. De forma a valorizá-lo para construção (de forma a que qualquer licenciamento não levantasse restrições devido ao património edificado) resolveram deitá-lo abaixo. O entulho daí resultante e as suas fundações ainda se encontram no local.


O leitor mais atento pode invocar que esta é daquelas atitudes que eu tenho vindo a condenar no blog. No entanto, com a constante destruição de património para lucro de uns poucos, eu tenho perdido aquilo que como penichense me também pertencia. Mas este caso é diferente. Sim, os penichenses perderam património, mas eu, ainda que indiretamente, ganhei uns trocos à conta disso. Não podem ser sempre os outros a lucrar com a destruição dos bens comuns.


Nesta foto do início do século XX, esse moinho aparece do lado esquerdo da foto. O do lado direito teve também o mesmo destino, para bem de uma outra família qualquer. Este retrato antecede a época em que diversas famílias de pescadores, oriundas principalmente da Nazaré, vieram habitar esta zona de Peniche, instalando-se em barracões de madeira, que depois deram lugar às casas coloridas que hoje conhecemos, numa das quais (nem tão colorida assim) foi integrado o moinho que aparece em primeiro plano.


Os moinhos valorizam bastante a malha urbana. Têm formas redondas, por oposto às faces planas que fazem parte de quase tudo o que há numa cidade.
Atualmente, temos dez moinhos na cidade, dos quais só um tem o equipamento original (do Forte da Luz) e só um está em condições de trabalhar (da Fialha).
Se sou capaz de a criticar, também devo dizer que pelo que tenho visto a conduta da autarquia nesta matéria tem sido exemplar (pelo menos desde que emprestaram ao meu pai um bulldozer para demolir o nosso moinho).
A verdade é que não vale a pena uma pequena cidade como a nossa estar a gastar balúrdios a devolver moinhos ao estado original. Reaproveitar os que estão em maior risco de colapso para casas de habitação (seja por iniciativa pública ou privada) seria uma forma de preservar e tirar partido do património sem grandes encargos para o estado.

2 comentários:

  1. O moinho da Fialha não foi mandado recuperar pela CMP. O que aconteceu foi que em troca da colocação das torres eólicas na Serra D´El Rei, uma contrapartida era a reparação deste moinho...

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