14 de novembro, um mês depois



Faz hoje um mês que houve uma manifestação em frente ao Palácio de São Bento, a qual, como nos lembramos, acabou à bastonada.
Há uma coisa que eu dei como certa desde o início: a polícia deixou a tal meia-dúzia de canalhas apedrejá-la apenas para justificar perante a opinião pública qualquer excesso. Esta estratégia revelou-se um absoluto sucesso.
Vou citar o que um amigo meu publicou no Facebook, conquistando uns generosos (incluindo o meu) 50 gostos:

Não sou de fazer publicações no Facebook. Mas desta acho que é um dever tentar espalhar a mensagem ao máximo.Neste vídeo vê-se claramente a brutalidade e o desrespeito presentes no dia de ontem. Mas não por parte das forças policiais. Nao! Por parte do povo, ignorante e BURRO ao ponto de arremessar pedras e garrafas durante HORAS contra uma barreira policial ESTATICA!! Pessoas como estas mancham ainda mais a nossa sociedade. Pessoas como esta deviam ser castigadas com prisao! É contra pessoas como estas que devemos mostrar o nosso desagrado. 
A união faz a força sim! Mas por favor, não nos unamos com estas pragas que habitam no nosso país! Lutemos contra estes animais que teimam em manchar o nosso nome e o queimar aquilo que é nosso! É nosso direito protestar, mas é nosso dever reagir contra estes ataques irreflectidos! 
Saudemos os policias que estiveram durante horas a ser apedrejados por terem aguentados quietos tantas horas. Provavelmente poucos cidadãos comuns teriam a força mental para não reagir durante tanto tempo! 
Por vezes o maior inimigo é aquele que está mesmo ao nosso lado.

No entanto, tenho-me vindo a perguntar até que ponto é que toda a ação policial (incluindo a passividade perante o apedrejamento), que resultou em dezenas de feridos, não estaria desde o início programada e não seria o resultado de uma decisão política para inverter o aumento das manifestações do género a que temos assistido nos últimos tempos.

Daniel Oliveira fez uma análise aprofundada da reação policial:


No jornal [Correio da Manhã] surgem várias críticas ao Comando de Lisboa, vindas de responsáveis policiais, por se ter optado por esperar quase duas horas e depois se ter efetuado uma carga policial indiscriminada, que além de ter atentado contra a integridade física de uma maioria de manifestantes pacíficos, impediu que os agressores fossem detidos em flagrante, dificultando a sua merecida punição judicial. Segundo fontes policiais do "CM", era perfeitamente possível "uma contenção imediata do fenómeno, com prova consolidada para os principais agressores - evitando-se aquela extensão de confrontos".


Disse o ministro [Miguel Macedo] que as provocações - que existiram - eram obra de "meia dúzia de profissionais da desordem". Se eram meia dúzia (facilmente identificável depois de uma hora e meia de tensão), porque assistimos a uma carga policial indiscriminada, que varreu, com uma violência inusitada e arbitrária, tudo o que estava à frente? Porque foram agredidos centenas de manifestantes pacíficos, só porque estavam no caminho, naquilo que, segundo a Associação Sindical da PSP foi a "maior carga policial desde 1990"? Conheço várias pessoas que, como a esmagadora maioria dos que ali estavam, não participaram em qualquer desacato. Não tendo sequer resistido a qualquer ordem policial foram, segundo os seus próprios relatos, espancadas pelas forças que deveriam garantir a sua segurança. Como é possível que tenham sido detidas dezenas de pessoas no Cais do Sodré e noutros locais da cidade, sem que nada tivessem feito a não ser fugir de uma horda de polícias em fúria e aparentemente com rédea solta para bater em tudo o que mexesse? Entre os detidos e os agredidos estava muita gente que, estando tão longe de São Bento, nem sequer tinha estado na manifestação ou sabia o que se passava. Como é possível que dezenas e dezenas de pessoas tenham sido detidas em Monsanto e na Boa Hora sem sequer lhes tenha sido permitido qualquer contacto com advogados, como se o País estivesse em Estado de Sítio e a lei da República tivesse sido abolida?

Quem passa aqui no blog sabe da minha passividade em relação ao OE 2013. No entanto, mesmo não concordando com a opinião pública vigente, para mim o direito à liberdade de expressão está acima de tudo.
Porque eu também já me manifestei em frente ao Parlamento (contra os cortes nas bolsas que iam tirar milhares de estudantes capazes mas sem meios do Ensino Superior) e por acaso dessa vez não houve arrastão policial. Mas, como cidadão de um país livre, mereço a garantia de que se me voltar a manifestar contra o governo (o que farei sempre que entender) saio a salvo e não a pingar sangue e a seguir vou para casa e não para uma esquadra.

1 comentário: