A Avenida Central em Coimbra

Durante o Estado Novo foram levadas a cabo grandes intervenções urbanísticas que tinham como objetivo melhorar o tráfego dentro das cidades, o que levou a diversas demolições, como as que levaram ao aparecimento do Largo do Martim Moniz em Lisboa:


Ou já agora em Peniche a Avenida do Mar:


Tal também aconteceu em larga escala noutros regimes fascistas, como por exemplo em Itália com a construção da Via dell'Impero, que esventrou a Roma medieval:


Desde o 25 de Abril, este fenómeno passou a ser menos observado, devido à maior atenção aos direitos dos residentes e à preservação do tecido urbanístico, optando-se pela construção de vias circulares, que sendo externas à urbe, garantem o acesso rápido entre os vários pontos da cidade.


O processo atualmente a decorrer em Coimbra, que, pela sua morosidade, passa bastante despercebido, no entanto será das maiores alterações no centro histórico de uma cidade desde a construção da Baixa Pombalina em Lisboa:


No século XIX, na vastíssima área anteriormente pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz, foi criada uma nova zona nobre da cidade, pensada ao pormenor em redor da espaçosa Avenida Sá da Bandeira:


Em seguimento da expansão da cidade, começaram a surgir ambiciosos planos que pretendiam ligar esta parte da cidade ao trânsito que circula na margem do rio:


Pouco depois, começaram as demolições. No entanto, algum tempo depois o financiamento escassou e a construção não chegou a avançar, ficando o espaço conhecido como "Bota Abaixo" e servindo de parque de estacionamento:

Em 1992, Fernando Távora foi incubido de desenhar edifícios para a zona:


No entanto, não se esqueceu da antiga proposta e deixou os novos edifícios com um arco no meio onde passaria a Avenida Central quando fosse construída.

Entretanto o projeto do Metro Mondego incorporou a antiga aspiração, sendo este o aspeto do projeto em 2006 (note-se o aumento das preocupações urbanísticas, através da alteração do número de edifícios a demolir para o estritamente necessário e da reconstrução da emblemática Rua Direita através de uma estrutura em metal):


O projeto continuava a implicar a destruição de uma grande quantidade de edifícios seculares no coração da Baixa de Coimbra. No entanto, ao contrário do que se passava em tempos idos, há o cuidado de se fazer uma intervenção minuciosa, que se mostrou em várias vertentes (o que não invalidou a existência de contestação).
Por um lado, apenas são integralmente demolidos os prédios pelos quais a nova rua passaria, e a fachada dos restantes é preservada e será integrada nos prédios a construir.
Por outro, foi identificada uma fachada manuelina que entretanto tinha sido incorporada por uma ampliação. Graças aos trabalhos preventivos será preservada e exposta na nova Avenida:


Finalmente, foi descoberta uma torre medieval, que não estava contemplada no projeto, mas como não foi demolida, talvez seja preservada...


Deixo algumas fotos da evolução das demolições (a zona onde estão os carros já tinha sido demolida em meados do século passado):





Atualmente, estão a decorrer escavações arqueológicas:


A torre medieval continua à espera de um destino:


As traseiras das casas que davam somente para um acesso dos moradores e vão passar a estar viradas para uma das mais nobres artérias da cidade esperam remodelação:


Os armazéns entre a a Rua Fernão de Magalhães e o rio foram já totalmente demolidos:


As demolições atrás da Rua da Sofia avançaram mais um pouco:


Numa parede está a ser pintado um mural:


E a demolição da fachada que dá para a movimentada Rua da Sofia espera uma altura em que possa ser rapidamente substituída sem causar muito estrago visual num local que foi recentemente elevado a Património da Unesco:


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